Alvo da Operação Lucas 12:2, desencadeada nesta sexta-feira (11) pela Polícia Federal (PF), o tenente do Exército Osmar Crivelatti, ex-coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, atuava como uma espécie de governante da vida privada de Jair Bolsonaro (PL), tomando conta das propriedades do ex-presidente, como a casa no condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro.
Em troca de mensagens no dia 29 de novembro de 2022, o tenente comunica à ABRJ, empresa que administra condomínios no Rio de Janeiro, que está "assumindo a incumbência de tomar conta das demandas da casa do Presidente Bolsonaro aí do Rio de Janeiro".
Crivelatti foi um dos assessores escolhidos por Bolsonaro para continuar atuando a seu lado após o fim do governo.
O tenente utilizou o e-mail oficial da presidência ao menos até o dia 20 de junho de 2023, já no governo Lula, quando responde ao segundo tenente Richer Pereira uma mensagem sobre "Ofício de encaminhamento para Inspeção de saúde".
No dia 10 de maio, em e-mail com o assunto "viagem nacional", Crivelatti informa o "sr. Marcelo Câmara, Assessor do Ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro" que "a viagem à cidade de São Paulo/SP, realizada no dia 6 de maio de 2023, transcorreu sem alteração".
Retirada do Rolex
Segundo a investigação da Polícia Federal, em 6 de junho de 2022, Crivelatti assinou a retirada de um Rolex do "acervo privado" para o gabinete dele. O relógio, avaliado em R$ 300 mil, foi doado pelo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdul-aziz em uma viagem oficial e teria sido negociado por Mauro Cid.
De acordo com a investigação, Crivelatti faz parte da organização criminosa que negociou e vendeu joias recebidas por Bolsonaro em viagens oficiais.
"Os investigados são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior", diz a PF.
Crivelatti também esteve ao lado do advogado Paulo Cunha em março deste ano na sede da Polícia Federal em Brasília para devolver o fuzil e a pistola presenteados pelo governo dos Emirados Árabes em 2019 que foram surrupiados por Bolsonaro.