A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas ocorridos em 8 de janeiro conseguiu recuperar pelo menos 17 mil e-mails de ex-funcionários da Ajudância de Ordens da Presidência da República.
Eles haviam tentado apagar todo o conteúdo da caixa de entrada, mas membros da comissão afirmaram que, para serem completamente eliminados, deveriam ter sido deletados também da pasta de lixeira. Como isso não ocorreu, os parlamentares tiveram acesso ao material.
Um dos e-mails em questão era do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) preso desde maio de 2023, e tratava de uma tentativa de vender um relógio Rolex por US$ 60 mil. Esse e-mail estava na pasta de lixeira. Foi por meio dessa série de mensagens não apagadas que a CPMI obteve informações sobre a tentativa de Cid de vender o Rolex que Bolsonaro recebido durante uma viagem oficial.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro trocou mensagens em inglês sobre a pesquisa de preço do relógio com Maria Farani, que atuou no Gabinete Adjunto de Informações do gabinete pessoal do ex-presidente até janeiro de 2023. De acordo com membros da CPI, Mauro Cid admitiu que o relógio não possuía certificado, apenas um selo verde, e sugeriu o valor de US$ 60 mil pela peça. No entanto, não havia contexto fornecido nas mensagens.
O relógio Rolex que Mauro Cid tentou negociar por e-mail. Foto: reprodução
O Rolex em questão havia sido presenteado a Bolsonaro durante um almoço oferecido pelo rei da Arábia Saudita à comitiva brasileira em 30 de outubro de 2019. Registros indicam que o relógio foi listado como “acervo privado” no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República em 11 de novembro. Além disso, há uma liberação do relógio datada de 6 de junho de 2022.
O ex-presidente afirmou não enxergar “nenhuma maldade” na ação de Mauro Cid em cotar o preço do relógio Rolex. Ele fez tal declaração após um almoço com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta segunda-feira (7). “É natural. ‘Quanto isso vale?’ É natural”, disse.
Ainda sobre o caso, Bolsonaro alegou ter fornecido ao Tribunal de Contas da União (TCU) tudo o que lhe foi solicitado, inclusive um relógio similar ao cotado por Cid. Ele ainda mencionou que questionamentos sobre o caso devem ser direcionados a ele e a seu advogado.