É o retrato da desigualdade e da tragédia abrindo novos negócios. O Titanic nosso de cada dia.
Turistas estão gastando até R$ 30 mil para saírem de helicóptero do litoral norte de São Paulo, devastado pelas chuvas. Ao menos 45 pessoas morreram e outras 49 estão desaparecidas em São Sebastião, Ilhabela, Ubatuba e Caraguatatuba, entre outras praias.
A rodovias em muitos trechos está interditada. Os ricos partem do heliponto do Sertão de Cambury. Cada aeronave leva oito pessoas.
“Eu trabalho em banco. Tenho casa em Cambury há muitos anos. Perdi toda a minha casa, alagou… cortei meu pé. Meu carro eu também perdi. São oito empresários que estão pagando a aeronave”, disse o bancário Flávio Prado ao G1.
“Nós nos organizamos, eles [empresários donos dos helicópteros] entraram com [entrega das] doações, levar água e mantimentos para a população local e aí eu vou voltar nessa aeronave que vai trazer os mantimentos”, falou Flávio.
Ao menos 15 helicópteros pousaram no heliponto e levaram pessoas no espaço de uma hora, de acordo com a reportagem.
Mas os relatos sobre os mantimentos são controversos.
Na Folha, uma mulher contou que a cena parece obscena no meio do que descreveu como “cenário de guerra” com “muito morto” e “gente perambulando com bebê”. “Dá ódio. Helicóptero que poderia ser usado para resgatar ou trazer remédio, colchão. O mínimo era abastecer o helicóptero com doação na vinda”, diz ela.
“Hoje fomos no mercado, ficamos 2h40 na fila e, quando chega lá, só pode comprar dois litros de água”, afirmou Priscilla Gidget à CNN na segunda, dia 20, ilhada com outras famílias.
“O mercado não tem mais papel higiênico, não tem macarrão, arroz, feijão. Até trouxemos [de São Paulo], mas está acabando, porque estamos com as crianças. Damos primeiro para elas e depois comemos o que sobra.”
“Eles [os helicópteros] estão no centro de Cambury e ficam fazendo anúncio de que estão fretando voos para São Paulo. Não pode ir com as malas, as malas ficam aqui com o carro. Cabem seis pessoas e eles cobram R$ 16 mil para dividir a viagem”, afirma.
“Poderiam aproveitar esse comércio aéreo. Como estão vendendo esses voos pra quem tem dinheiro, estão com a liberação aérea para isso, daria para trazer água, alimentos. Se eles estão indo para São Paulo, estão voltando com a aeronave vazia.”