O cerco está se fechando para Jair Bolsonaro e o ex-presidente sabe disso. Tanto é que se mantém há mais de um mês nos EUA e já sinaliza que pretende ir para outro país, enquanto novas denúncias o deixam cada vez mais perto da prisão.
Nesta quinta-feira (2), o senador Marcos do Val (Podemos-ES) revelou em entrevistas à imprensa que participou de uma reunião no Palácio da Alvorada no dia 9 de dezembro em que Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira detalharam um plano de golpe de Estado.
Segundo o relato, Bolsonaro estaria de acordo com o plano e prints de mensagens do deputado Daniel Silveira a Marcos do Val após a reunião confirmam em partes o conteúdo do encontro golpista.
Questionado pela imprensa se pretende fazer o processo de reconhecimento da cidadania italiana, tal como seus filhos Flávio e Eduardo Bolsonaro, o ex-presidente tergiversou e se limitou a dizer: "Pouquíssima burocracia e cidadania plena".
A fala, feita justamente no dia da denúncia de Marcos do Val, que se soma ao caso da minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, que está preso, indica que Bolsonaro, diante do cerco se fechando, não pretende retornar ao Brasil tão cedo e já vislumbra, inclusive, morar na Itália.
Ainda nesta quinta-feira, Marcos
do Val prestará depoimento, autorizado por Moraes, à Polícia Federal,
no âmbito do inquérito que apura os atos golpistas do dia 8 de janeiro e que devem implicar diretamente Bolsonaro.
A reunião com Bolsonaro
O senador do Podemos diz que a reunião com Bolsonaro foi marcada para acontecer por volta das 17h30 do dia 9 e que recebeu orientações de Silveira sobre como entrar de forma discreta no Alvorada.
“Vou te mandar a minha localização, mas tu não entra não, no Alvorada. E nem chega perto da entrada. Tu não vai aparecer. Tu vai parar o carro no estacionamento que eu vou te mandar a localização. Eu vou estar ali. O carro vai vir buscar a gente”, teria dito Silveira em mensagem de áudio.
Do Val e Silveira teriam sido levados ao Alvorada por seguranças de Bolsonaro e iniciaram a reunião que durou cerca de 40 minutos.
Bolsonaro estava de bermuda, camisa de manga curta e chinelo e um dos assuntos abordados foi a mobilização de apoiadores nos acampamentos em frente aos quarteis. Foi quando Silveira teria pedido ao então presidente que apresentasse a ideia que “salvaria o Brasil”.
A ideia era armar o plano contra Moraes para que o ministro fosse preso e a posse de Lula e as eleições anuladas. “Você será um herói nacional”, teria dito Silveira.
GSI
Na reunião, Bolsonaro teria dito que já havia acertado com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general Augusto Heleno, a participação da Agência Brasileira de Informação (Abin) "que daria suporte técnico à operação, fornecendo os equipamentos de espionagem necessários".
Além de Bolsonaro, Do Val e Silveira, outras duas pessoas teria conhecimento do plano.
O senador teria sido escalado pelo ex-presidente para se aproximar de Moraes "porque conhecia o ministro há mais de uma década". Do Val teria pedido tempo para pensar e foi cobrado no dia seguinte da resposta por Silveira.
O senador não respondeu e foi cobrado novamente. “Não
sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define,
literalmente, o futuro de toda a nação”, disse Silveira, que cobrou uma
resposta pela terceira vez.
Encontro com Moraes
Marcos do Val diz que teria informado Silveira que iria "declinar da missão" no dia 14 de dezembro, após relatar a Moraes o plano de Bolsonaro.
“Não acredito”, teria dito o ministro em tom de espanto ao receber o alerta inda de toga, no intervalo do julgamento da ação sobre o orçamento secreto.
Como resposta da negativa, Do Val teria recebido uma mensagem breve de Silveira: "Entendo, obrigado".
No dia seguinte, Moraes multou Daniel Silveira em R$ 2,6 milhões por desrespeito às medidas cautelares na prisão domiciliar, entre elas retirar a tornozeleira eletrônica e não manter distância de outros investigados.
Procurados
pelo Veja, Silveira disse que está impedido pela Justiça de falar com
jornalistas. Moraes não comentou o caso e Bolsonaro não foi encontrado
pela reportagem.