As reuniões de apresentação do resultado da Petrobras, ocorrida na manhã desta quinta-feira (2), e da coletiva de imprensa, ocorrida durante a tarde, foram marcadas por discursos díspares.
De um lado, Rodrigo Araujo, Diretor Executivo Financeiro e de Relacionamento com Investidores da estatal nos últimos dois anos, adotou um discurso liberal, ao comemorar com os investidores o “melhor resultado histórico da Petrobrás”, com lucro líquido de R$188,3 bilhões, distribuição de dividendos de R$15,09 por ação e redução da dívida líquida, mesmo em um cenário que considerou “desafiador”.
Araujo está se despedindo da função, uma vez que o novo presidente da petrolífera, Jean Paul Prates, anunciou recentemente o nome de Sergio Caetano Leite para o cargo; essa nomeação ainda aguarda deliberações internas.
Embora Prates tenha acenado aos investidores durante a manhã, com um discurso mais brando, ele destacou a necessidade da estatal “produzir valor para o Brasil”. Aos acionistas, Prates disse esperar que a Petrobras obtenha bons lucros e, consequentemente, distribua mais dividendos, mas sem prejudicar os bons projetos.
“Eu quero deixar uma empresa que viva mais 70 anos produzindo valor para o Brasil, para os acionistas e para os seus trabalhadores”, disse. Fazendo referência ao governo Bolsonaro, o novo gestor garantiu ainda que não haverá “alguém de fora impondo à estatal que venda seus ativos”.
Sobre os preços dos combustíveis, o ex-senador enfatizou que a empresa cuidará apenas de sua política comercial: “A Petrobras agirá para não perder uma proposta de venda de combustível e vai se defender quando for acusada de estar perdendo cliente”, disse ele. “Não venderemos ativos por decisões governamentais, mas com decisões de empresa, perseguindo possíveis investimentos favoráveis com diálogo e tomando decisões da empresa e não impostas por algum tirano”.
O executivo aproveitou para expressar a intenção de protagonismo esperado para a Petrobras em se tratando, principalmente, da transição energética, com destaque para os investimentos em gás natural.
Na entrevista coletiva concedida no período da tarde, Prates adotou um discurso ainda mais enfático ao criticar diretamente o resultado de 2022, criticando os equívocos do antigo governo: “Você quer ver esse auditório dar lucro, então vende tudo o que tem dentro”, disse. Ele também voltou a comentar a política de preços de combustíveis da gestão anterior e afirmou que haverá “diversificação de parâmetros”.
Aos jornalistas, Prates destacou ainda as possíveis mudanças nos parâmetros de preços, deixando claro que o presidente Lula não está interferindo na gestão e sim dialogando enquanto acionista majoritário, o que deve ser “naturalmente visto, sem suspeitas”.
“O presidente disse que se for necessário mudar a regra, que seja dentro da regra”, contou. O indicado de Lula voltou então a criticar a atual política de paridade de importação (PPI) que, segundo ele, não é uma política de paridade internacional, mas de paridade de importação. “A paridade internacional todo mundo segue. No mercado local, você tem outros critérios, como produção local, refinarias. PPI é uma abstração. É uma referência. Podemos usar várias referências e com conveniência no sentido de captar mercado, mais clientes”, disse. Apesar disso, o executivo garantiu que só haverá mudança na hora que a regra for mudada por escrito e “após as discussões”.
Em vez da atual política, Prates defendeu que a Petrobras adote o “preço do mercado em que ela está atuando”, o que, segundo ele, será bom para o acionista. “Não faz sentido a gente insistir, para a Petrobras, em uma política de preço que seja boa para uma concorrência”, disse. “Isso não vai ser pior para o acionista. Vamos sempre fazer o melhor preço para conseguir vender. É mercado. Não consigo entender o mistério”.
“A PPI só garante ao concorrente uma posição mais confortável”, explicou. “Pode ser uma política de preços transversal, de referência, conta de estabilização, monitoramento de estoques estratégicos. Não existe bala de prata”.
Ao rebater críticas, Jean Paul Prates aproveitou para questionar a gestão da Petrobras durante o governo Bolsonaro: “Quem foi intervencionista foi o governo anterior, ao obrigar a Petrobras a praticar o preço do concorrente, o que não faz o menor sentido”.
Houve também o descarte de que a mudança de preços incorra no risco de desabastecimento e também não decretou o fim da PPI que, segundo ele, deve continuar em vigor, mas apenas para o importador.
“A PPI vai estar em vigor para o importador e para quem quiser importar”, disse. “Aqui não há guerra com ninguém, mas a necessidade de importar não é da Petrobras, e sim do país”.
Ainda sobre preços, ele defendeu a necessidade de se discutir de forma transparente a política de preços de combustíveis do Brasil, com a participação de todos os atores do governo, inclusive a Petrobrás.
Sobre a distribuição de dividendos, Jean Paul Prates defendeu uma certa liberdade para sua distribuição: “Não faz sentido uma regra amarrar, quanto mais flexibilidade melhor”, disse, lembrando que a gestão de uma empresa estatal não pode, de forma alguma, se assemelhar com a gestão de uma empresa privada. “O meu desafio é transformar essa diferença em uma vantagem e não em uma desvantagem”.